Traga-me flores.
Pediu a donzela com um sorriso terno.
Sonhando em poder acompanhá-lo, viver seus amores.
-Flores? - perguntou o cavalheiro, espantado.
Pediria algo mais valioso
Alguém que por tanto tempo esteve confinado.
-As primeiras que atrairem teu olhar...
A donzela olhava para a atmosfera sombria do local,
Imaginando aquelas nuvens sobre o luar.
O cavalheiro não se deteve.
Partiu para a superfície mais uma vez;
E a donzela se via só, como sempre esteve...
Tinha vagas lembranças do mundo lá fora.
Em seu rapto, não gritou por socorro,
A única testemunha era a Aurora.
Desceu aos infernos figurados e literais
Enquanto era seduzida,
Devorada por teus olhos canibais.
Mil almas a receberam na entrada
Enquanto Caronte acenava
De sua carruagem ancorada.
Rios de fogo, arbustos apavorantes,
Mas o medo real
Era de teus olhos cativantes...
Havia algo de divino em tua voz.
Pareciam cantar mil condenados,
Enquanto de fundo tinha-se um violino em lamento algoz.
Ela era a brisa mansa da Primavera.
Caída de amores por algo tão distante,
O próprio Inverno e a dor que reverbera.
Será que a culpa era mesmo das sementes cheias de cor?
Ou era culpado o próprio Eros,
Por mirar a flecha em tão errôneo amor?
Havia o teu amar inspirado Homero?
Foi tua coragem submundana,
Que choca até hoje o clero?
Olhava perdidamente as magníficas romãs...
Imaginando como ficariam
Banhadas pelo orvalho das manhãs...
O fruto a trouxera ao palácio assombrado.
Estava agora cercada por fantasmas,
E um rei insubordinado...
Estava presa naquele submundo infindável,
Enquanto sua mãe torturava seu povo.
Trazendo ao inverno uma dor incalculável.
O Cérbero na porta, dizia ser para sua proteção.
Mas ele parecia livre para ataca-lá
E ela ali, amordaçada sobre o chão.
Mantinha-se ali por seu salvador.
Aquele das viagens trazia flores,
Novas amantes e juras de amor...
Mas ela deveria mesmo ficar?
E se fosse embora...
Aonde mais poderia se encontrar?
A donzela amava o carcereiro...
Estava apaixonada por tua alma sombria?
Ou por teus poucos minutos de cavalheiro?
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